O ritual do aperitivo em Milão
12
Mar

O ritual do aperitivo em Milão

Milão é muito conhecida pelos italianos devido à sua intensa vida social: lugares da moda, ofertas de lazer, as tendências mais inovadoras da Europa, está rodeada por lugares históricos que certificam o carácter nobiliário dos seus antepassados. Este é o lugar que viu nascer bebidas e costumes que, pouco a pouco, também aderimos.

“Cin cin” é o que se costuma dizer quando dois copos se encontram para brindar. Esta expressão, que deriva do inglês “tchin-tchin", mutada do chinês ch’ing ch’ing, que significa “por favor”, foi introduzida pela primeira vez, na Europa pelos marinheiros britânicos. Hoje, como na época, em Itália e em Milão especialmente, esta fórmula de cortesia continua a ser a mais pronunciada durante o aperitivo. A tradição que vê a capital lombarda como criadora deste ritual nasce nos anos 80, graças a um anúncio publicitário que se converteu num manifesto daquela época. Com o slogan “Milano da bere” (Milão para beber), a empresa Amaro Ramazzotti lançava a sua bebida mais conhecida, um licor obtido da maceração de 33 tipos de ervas, e destinado a converter-se na primeira bebida sem vinho, como ingrediente básico.

A imagem que o anúncio pretendia transmitir aos italianos era que Milão era uma cidade enérgica, poderosa e potente, capaz de reagir aos trágicos atos de terrorismo que tinham golpeado a cidade ao longo dos anos 70.

Milão, a partir de então, converte-se num símbolo de bem-estar, de ritmos frenéticos, de cidade moderna e divertida. A capital ambrosiana quer impor-se e ser percebida como a Nova Iorque europeia, como a cidade italiana que nunca dorme, onde os seus cidadãos são modelos e agentes da Bolsa. Assim, começam a estar na moda fabulosas ruas que contam com as lojas de mais glamour do momento, Via Montenapoleone e Via della Spiga tornam-se autênticas referências, que hoje continuam intactas.

A indústria da moda começa a ser o principal atrativo da cidade, Milão transforma-se em sinónimo de “made in Italy”, ganhando um protagonismo próprio das passerelles de todo o mundo. As pessoas manifestam a sua vontade de viver, de sair e de ser relacionar acompanhados, claro, de um bom cocktail para partilhar e comemorar o sucesso. Assim nasce o ritual do aperitivo, uma tendência sempre atual que, cada vez, conquista mais seguidores em todo o mundo.

Neste contexto, um dos indiscutíveis ícones de Milão é o Campari. A sua origem tem relação com a chegada, em 1862, de Gaspare Campari à cidade. Dividido entre Novara e Turim, após várias tentativas com sorte alternada, o empresário conseguiu abrir um bar localizado no centro, na Piazza Duomo, ao lado da belíssima Galeria Vittorio Emanuele. Gaspare montou um laboratório na parte de trás do seu estabelecimento para fazer experimentos com destilados e elixires que, finalmente, levaram-no ao sucesso. A receita do Campari tinha nascido e, segundo dizem os milaneses, continua sem sofrer variações desde aquela época. Tanto a Piazza Duomo, como a galeria Vittorio Emanuele, testemunhas da criação do Campari, merecem uma visita. Pela beleza espetacular da catedral, pela vista emblemática que podemos observar do alto e pela elegância, de outros tempos, que envolve os comércios alojados na galeria, estes lugares representam a alma, sofisticada e controvertida, da capital lombarda. Neste cenário há também outro cocktail que alcançou fama internacional: o Americano. Apesar de o nome induzir a pensar em outros países é, na realidade, uma bebida muito italiana, composta por: vermute rosso, originário de Turim, Campari e um toque de soda. Precisamente pelos seus ingredientes, este cocktail é também conhecido como Milano-Torino, ou TO-MI. Quanto ao nome, Americano, alguns o associam com a comemoração de uma vitória do boxeador italiano, Primo Carnera, obtida em Nova Iorque durante a época do fascismo. Outro protagonista indiscutível dos balcões milaneses é o Negroni Sbagliato. Criado nos anos 60 pelo bartender, Maurizio Stocchetto, este cocktail diferencia-se da versão clássica (gim, vermute, campari) porque mistura o espumante bruto, no lugar do gim. “Sbagliato” em italiano significa equivocado, foi justamente um erro nos ingredientes que levou à criação desta bebida, especialmente apreciada pelo público local.

 

 

Como é fácil de imaginar, em Milão, a oferta de lugares onde saborear um copo, antes e depois do trabalho, é praticamente infinita. A maioria deles concentra-se na zona conhecida como os Navigli. Eles nasceram como um sistema de canais de rega e navegáveis, que serviam para fazer a interligação do lago Maggiore com o lago de Como e o rio Ticino, abrindo à capital lombarda as vias da Suíça e do noroeste da Europa. Atualmente, ao longo destes canais, há uma infinidade de lugares que oferecem o serviço de aperitivo, geralmente composto por um buffet abundante à base de massa fria, pizas, bruschette e outros manjares que acompanham os cocktails. Além disso, a oferta gastronómica é cada vez mais variada e generosa, tanto que aquilo que nasceu como “aperitivo”, já se converteu naquilo que os milaneses chamam: apericena. Devido às doses oferecidas assemelham-se mais a pratos de verdade, incluindo receitas mais sofisticadas, o apericena consiste num momento de prazer, justamente a meio entre o aperitivo e o jantar. A propósito, Milão sempre é um bom lugar para desfrutar diariamente do apericena.

Na seguinte publicação, faremos um passeio pelas belíssimas montanhas e vales que rodeiam a Lombardia, até à fronteira com a Suíça: Valtellina. Este é um destino especialmente solicitado por todos os amantes dos desportos de inverno, que visitam os Alpes italianos de todo o mundo.

45.4654219, 9.1859243

Milán

É a maior cidade de Itália setentrional e a segunda cidade do país por população, capital da província de Milão e da região da Lombardia. Localizada na planície paduana, é uma das regiões mais desenvolvidas de Itália.

População: 1.345.890 hab.

Superfície: 181,76 kmª